Bahia / 2023
Escultura para a atmosfera da arquiteta Maine Ribeiro
Processo Criativo
Uma escultura utilitária. Entre a arte e o Design
A convite da Arquiteta Maine Ribeiro, a Coríntia desenha uma peça exclusiva para a maior exposição de arquitetura e design das Américas.
A Coríntia teve a oportunidade de ler a intenção espacial e atmosfera desejada pela arquiteta e criar uma peça com um desenho exclusivo para a mostra.
Pintura | Desenho | Escultura
A forma entre linguagens da arte
Encontrar a Forma de uma escultura que tem a particularidade de ter função é um processo que o Head Designer da Coríntia, Guilherme Falcão, encontra trabalhando várias linguagens artísticas.
O Background em arquitetura, onde existe uma intimidade entre forma e função alimenta essa procura.
Um processo que começa no desenho, na pintura, em tela ou mesmo na pedra. Cruza-se a percepção e informação dada pelos contrastes cromáticos e as subtrações esculpidas.
Uma escultura utilitária
Um novo conceito de arte
A ideia criativa tinha uma série de premissas que tinhamos de seguir. Uma delas, por exigência do patrocinador, a Deca, tivemos de utilizar uma cuba da coleção deles, impedindo a Coríntia de a fazer esculpida.
A Arquiteta Maine Ribeiro, com a qual houveram várias conversas e reuniões para entendermos a presença da bancada no espaço que ela estava a idealizar.
Os revestimentos, em porcelanato, eram cheios de formas orgânicas imitando uma rocha natural. Destacava-se a aleatoriedade que representava os diversos minerais e uma paleta verde.
A bancada tinha de estar em balanço, o que levou à necessidade de consultarmos um engenheiro de estruturas, seriam entre 400 a 500 kg de pedra maciça em balanço.
A bancada iria levitar num antagonismo entre o peso real e leveza aparente. Entre a atmosfera criada pelo revestimento e piso mais escuro versus o branco da rocha. À esquerda, na única face que comunica com a parede, com a estrutura, um espelho acompanha a face dando a percepção de continuidade pelo reflexo. Duplica a bancada, expande a percepção do espaço.
O que era um pequeno lavabo de serviço é agora um espaço de exposição de uma peça de arte que se pode usar.
A geometria do desenho esculpido na pedra incorpora a cuba da Deca. A escultura é pensada como uma composição que só resulta com esses elementos. Um jogo de subtrações à esquerda que irão ser espelhados pelo reflexo, criando um momento de maior tensão e complexidade volumétrica. Há um patamar que se destaca e surge como sendo o dominante na composição, o estrato utilitário que se abre quase a abraçar a cuba. A convidá-la a pertencer ao jogo de volumes. O seu circulo é balanceado na composição por um outro circulo mais pequeno. Um copo que será preenchido por pequenas pedras que foram guardadas dos cortes que esculpiram a própria peça. Trituradas em brita, irão preencher e segurar as plantas que iram existir no vaso que surge esculpido na mesma bancada.
A incorporação conceptual da máxima da exposição 'Corpo e Morada' foi também mote na criação da peça. 'Corpo e Morada' fez-me lembrar o livro 'Os olhos da pele' de Juhani Pallasmaa, onde o arquiteto finlandês defende que para se ler um espaço é necessário todos os sentidos, não apenas a visão. O som da água, que remete a uma calma localiza a cuba na parte menos torbulenta da bancada. Onde existe um plano que secciona o volume para destacar a cuba, mas que convida a percorrer a mão pelo desnível desse plano. A textura da pedra pertence à composição.
Toda a história e a riqueza volumétrica desta bancada pode e deve ser lida com as mãos, percorrendo todo o desenho.
Esta percepção do espaço com diversos sentidos alimenta a memória que se cria dele, torna rica a memória afetiva com o lugar, com o lar. Uma peça esculpida em pedra é também atemporal, pelas suas propriedades geológicas, do quartzito, é uma peça que irá durar gerações se cuidada. É uma peça da qual vai ser referência nas histórias contadas e vividas por quem experienciou o espaço, porque ela irá perdurar, de avós, para filhos e netos. Uma escultura como as da Coríntia dura vidas e irá coexistir nas memórias de quem a usa.
o Artesanal na era da Automação
Artesanal
O Artesanal para esculpir quartzito, na era da Automação, requer ferramentas elétricas ou pneumáticas que permitam vencer a dureza da rocha. Uma rocha com tamanho grau de dureza, não permite apenas a utilização de uma escopa, talha e martelo. Estamos a viver a época charneira para a inteligência artificial tomar conta de vários processos fabris, iremos testemunhar uma grande transição no quesito da Automação que já tão evoluída está. CNC´s, braços mecânicos, desenhos tridimensionais que se traduzem em renders realistas de peças ou atmosferas. A tecnologia surge como um tsunami mudando a paisagem da industria que a revolução de 1760 (revolução industrial) criou.
Na coríntia queremos enfatizar o 'Handmade' feito com as mãos. Do 'pensar com as mãos' como disse Alberto Campo Baeza, à materialização - à escultura conduzida pela mestria e destreza do talento dos artesãos. A grande maioria é formada pela Coríntia. A nossa vontade de recuperar a 'mão de obra' perdida aquando da extinção da cooperativa revelou-se difícil, mas é um compromisso a longo prazo.